O palco do Teatro Alberto Maranhão – TAM recebe de 04 a 07 de julho, a peça Nara, interpretada pela atriz Zeze Polessa, com autoria e direção de Miguel Falabella, o espetáculo tem oferecimento do Ministério da Cultura e patrocínio exclusivo da Petrobras.
Nara Leão (1942-1989) é um nome incontornável para se entender a música, a cultura e a sociedade brasileira dos anos 60, 70 e 80. Suas atitudes pioneiras e revolucionárias se refletem em um repertório absolutamente singular e marcam uma trajetória que reverbera mesmo após três décadas e meia de sua partida. ‘Nara’, é fruto do arrebatamento causado pela cantora em Zeze Polessa, que partilhou o desejo de revivê-la nos palcos tendo ao seu lado, na autoria e direção do espetáculo, o amigo Miguel Falabella, parceiro em uma série de projetos teatrais desde 1979.
Zeze Polessa cresceu ouvindo e acompanhando a carreira de Nara através dos discos e os muitos sucessos tocados nas rádios. Durante a pandemia, ela começou a ler uma biografia da cantora e – a partir de então – enfileirou uma série de entrevistas e livros sobre o período, quando, intuitivamente, começou ali a fazer uma pesquisa daquela que seria a sua próxima personagem.
Ao falar sobre a vontade de interpretar Nara, em uma conversa informal com Miguel Falabella, ele na mesma hora avisou que criaria o texto do espetáculo e, após uma semana juntos, ainda no período pandêmico, a primeira versão da obra começava a ganhar forma.
Momentos e canções
No espetáculo, Nara aparece como se estivesse vindo de algum lugar do futuro – ou do passado – para compartilhar com o público algumas lembranças e reflexões. Através de um grande fluxo de consciência, o texto relembra momentos e canções da cantora sem preocupação com cronologias, datas ou qualquer outra formalidade, bem no estilo Nara, uma intérprete que sempre foi ‘fora da caixa’, quando esta expressão nem era tão usada assim.
‘Logo no início, ela mesmo diz que está de volta graças ao privilégio do teatro. Quando eu tive vontade de fazer a Nara, falei com Miguel que sabia não ter mais a idade dela, mas ele logo disse que isso não tinha a menor importância. Eu não procuro imitar o seu jeito de falar ou cantar, existe uma liberdade em todo este processo, não poderia ser diferente com alguém que sempre foi tão livre’, reflete Zeze, que interpreta ao vivo alguns dos muitos sucessos da intérprete, como ‘A Banda’, ‘Corcovado’, ‘Marcha da Quarta-feira de Cinzas’, entre outros.
Com direção musical de Josimar Carneiro, o espetáculo perpassa os diversos estilos e movimentos dos quais Nara participou. Em constante mutação, ela nunca se deixou rotular ou ficar presa a um determinado gênero: esteve no coração do nascimento da Bossa Nova, flertou com o Tropicalismo, participou dos festivais da canção, protagonizou o lendário show ‘Opinião’, com João do Vale e Zé Ketti (e foi quem escolheu a estreante Maria Bethânia para substituí-la) resgatou antigos compositores, cantou samba-canção, músicas de protesto, rock’n’roll e jovem guarda. A liberdade e a inquietação de Nara se refletiam, sem amarras, na sua criação artística.
No palco, as canções surgem para pontuar alguns dos momentos de uma vida que se confunde com a história do Brasil daquela época. Ao longo das cenas, alguns temas vêm à tona, como a repressão sofrida no período da ditadura militar, o exílio, o avanço do debate feminista, a revolução comportamental das décadas de 60 e 70, a maternidade, os célebres casos de amor e as demais paixões da cantora.
Não é a primeira vez em que Zeze vai cantar em cena. Sua trajetória foi pontuada por alguns musicais, inclusive chegando a protagonizar uma versão de ‘A Noviça Rebelde’, em 1992. ‘As canções de Nara me acompanham há muito tempo, eu já sabia as letras de uma boa parte do repertório e agora o desafio foi justamente selecionar quais as músicas que entrariam na peça, já que ela produziu muito ao longo da vida e gravou sempre canções muito pertinentes e necessárias’, conta a atriz.