Para a rendeira Marise Dias do Nascimento da Silva fazer bordado de Bilro é como andar de bicicleta. “Uma vez que aprende, não esquece nunca”, diz a filha de dona Adília Júlia da Conceição, enquanto trança as linhas com a ajuda dos bilros – objetos de madeira com uma pequena cabeça nas extremidades na qual é enrolada a linha para se fazer o trançado.

Aos 5 anos de idade, Marise já acompanhava a mãe, e com um coco verde grande, coquinhos pequenos e restos de linha foi apresentada à centenária arte de Bilro. “Com esses bordados criei meus dois filhos. Pena que não tive filha mulher para deixar o ensinamento de herança”, diz a rendeira, preocupada com o fim dessa tradição.

Para Marise Silva essa arte vai acabar extinta. “Os jovens não querem aprender e os velhos que sabem rendar estão indo embora sem repassar seus conhecimentos. Com certeza, vai se perder com o tempo”, diz enquanto faz seus trançados.

Diariamente, essa mulher guerreira sai de casa em Pium e se dirige até à feirinha de artesanato do Cajueiro, em Pirangi do Norte. “Passo minhas horas aqui, fazendo os meus bordados. Já esteve bem melhor as vendas. Agora por causa da pandemia ficou fraco. Mas, vai melhorar”, afirma com esperança na voz.

A renda de bilro é feita sobre uma almofada, o enchimento se dá com materiais como serragem, capim ou algodão. Por cima da almofada fica um molde com o desenho,, onde será seguido com o trançar dos bilros. As peças artesanais apresentam pontos abacaxi, folha em renda, trança, coração, não-me-deixe, mata-fome e muitos outros. E, tudo é colocado à venda nos próprios boxes do Cajueiro.

Em um dos quiosques do Cajueiro, a vendedora Maria de Fátima, também torce para que tudo volte ao normal. “Antes, isso aqui era lotado de turistas. Agora, está muito fraco. Rezo todos os dias para que essa doença se acabe logo”, desabafa.

Com a renda de bilro, as artesãs fazem todos os tipos de peças desde cama e mesa, até vestidos, saídas de praia e regatas. Mesmo com poucos registros sobre a trajetória de bilros no Nordeste, sabe-se que essa arte foi trazida por mulheres portuguesas.

Fotos: Marciano Costa